quinta-feira, fevereiro 14, 2008
quinta-feira, novembro 08, 2007
A camisola verde acentuava-lhe o castanho do olhar com lágrimas, algumas crescidas, outras menores, mais tenras, algumas hoje, outras ontem...
As calças largas acentuavam-lhe a magreza com algumas fomes, algumas crescidas, outras menores, mais tenras, algumas hoje, outras ontem...
sexta-feira, novembro 02, 2007
sábado, outubro 27, 2007

viviam no teu cabelo estrelas do mar cor-de-rosa, não porque as tivesses escolhido, apenas porque sim.Aí ficavam penduradas, acenando aos ventos canções do mar, e dançando o vira. Por baixo delas ficava a tua cabeça, ornamentada pelo seu brilho, que nos fazia esquecer de ti. Mas tu estavas sempre lá, não estavas?
domingo, outubro 21, 2007
Ela ponha a mão!
-Agora ponho eu, dizia ele.
E ele punha a mão!
-Agora mexes assim, dizia ele.
Ela mexia assim.
Ele punha a mão por cima da mão dela.
A mão dela ficava por baixo da mão dele.
Os ossos dos dedos dela, estalavam ao seu aperto.
Os ossos dele não.
Ela abria muito os olhos.
Ele fechava muito os olhos!
Ela tinha medo.
Ele tinha prazer!
-Agora vamos embora, dizia ele.
E iam-se embora!
-Não podes contar a ninguém, dizia ele.
Ela não contava a ninguém!
Vou viver para sempre na tua cabeça, pensava ele.
Vai viver na sempre na minha cabeça, pensava ela.
As mãos dele cheiravam a estopa.
As mãos dela não!
Ela reconhecia o cheiro da estopa.
Os amigos dela não.
Os amigos dela não sabiam o que era estopa.
Ela sabia!
Ele sabia!
Ele cheirava a estopa
Ela não!
quinta-feira, outubro 18, 2007

A estrada era tão longa, quanto o
tamanho dos teus braços, que, eram tão longos quanto mais jovem fosse o teu
nascimento.
Ainda
assim tinhas sempre a árvore, os
troncos...a
distância que te separava do
seu final, do seu encruzilhar,era a tua
estrada, e poderias fazer dela o que
quisesses.
E
fizeste!
Plantas-te
nascentes, onde antes só
existiam solidões, e trouxeste azul e flores, como
quem traz amor e beijos
perdidos e recuperados,e nunca esquecidos.Entre nós
fica a estrada, o desapego.
Entre nós fica a
saudade.Acredita
terça-feira, outubro 16, 2007

A casa dos tios cheirava á avó, a casa da avó, cheirava á avó, até a casa de Lisboa cheirava á avó um mês antes dela chegar...
A avó tinha a dimensão dos gigantes, dos intocáveis, dos seres etéreos e providos de fantásticos dons supremos, e, tal como Deus ( a quem eu temia e tremia ao pensar na sua mão cruel, com que seria um dia punida, por todos os meus pecados), estava acima de todas as razões, de todas as humanidades, e, de todas as pequenas desvirtudes que lhe pareciam defeitos profundos e medonhos e a levavam a acreditar que não haveria qualquer possibilidade de um futuro feliz para uma pessoa suja e impura como eu.
Quando a avó chegava, a casa tornava-se silêncio,e, a sua arrumação era perfeita e constante, e, os biblots e os naperons, voltavam rapidamente ao seu lugar original, com a fantástica certeza, que dali jamais sairiam. Como castelos conquistados aos mouros, lá ficavam, heróicos, estóicos, valentes e seguros, e, os nossos olhos, que, eram grandes, ficavam pequenos á passagem da avó.
Espreitávamos subtilmente por entre o nevoeiro da comida e o cheiro das iscas, e, o cheiro da naftalina, que habitava na arca do enxoval.
A arca do enxoval era outra instituição, que, tal como a avó, tinha o seu lugar certo, e, toda a sala se arrumava em volta da sua magnitude, da sua amplitude, da sua existência. Lá dentro era fácil encontrar panos de cozinha, naperons, uma ou outra colcha de cama, e, as coisa boas bordadas á mão, dobradas do avesso e por passar a ferro, para que o amarelo não usurpasse o branco imaculado dos tecidos vários, que iam do linho á linha e aos turcos, e, os lençóis com rendas levavam-me a pensar em quem iria dormir ali.
Havia também objectos de puro mau gosto, tigelas enviadas pelas tias, e, pequenos brindes de quermesse. Um ovo de coser meias em madeira, que acompanhou as mudanças de idade, as mudanças de arca, as mudanças de vida.
Sempre inócuo e vago.
Sempre presente por lá, sempre inútil, jamais viu concretizar a função para a qual nasceu( um dia coserei meias com ele, para que possa completar a sua existência), ainda assim sempre por lá!
Creio que ainda hoje por lá anda, perdido nalguma caixa de recordações ou entre os brinquedos dos meninos agora adultos, e, que vêm nele apenas o que é...um ovo de coser meias.
(cont.)
sexta-feira, outubro 12, 2007
segunda-feira, fevereiro 12, 2007
Cadeira

Prepara pires que esperam chávenas de café, que esperam no calor da maquina (em tempos Cimbali) pelo pedido do cliente.E envolta neste seu pensamento vê chegar a cadeira, pela primeira vez, vê chegar a cadeira e tal como todas as outras pessoas do mundo, viu o que todas as outras pessoas do mundo vêem- uma cadeira de rodas!
Esta trazia ao colo um homem e nas costas empurrando calmamente e longe de trazer um fardo vinha o rapaz.
Empurrava a cadeira como se empurra um carrinho de bebé, com a mesma paz e o mesmo carinho! Não tinha pressa, nem estava ocupado, apenas empurrava a cadeira!
Queriam café e um cinzeiro,e, queriam falar e dar beijos na testa e nas mãos,e, queriam estar juntos. Pai e filho queriam estar juntos, aproveitar o tempo que adivinhavam curto, para os muitos abraços que ainda queriam receber.
A rapariga voltou aos pires com um novo pensamento, com a alma mais aberta e o olhar mais perdido.
De vez em quando voltavam, sem dia nem hora marcada, apenas voltavam. Nuns dias a rapariga arrumava os pratos, noutros dançava pela sala enquanto servia águas e cafés e chocolates quentes.
Um dia ele disse:
- Somos amigos!
-Amigos?
-Sim somos amigos
-De que tipo?
-Daqueles dos abraços
-como te chamas
-Flecha
-Pois é somos amigos!
-De que tipo?
-daqueles que ficam cheios de alegria por se verem, mesmo sem se lembrarem que são amigos!
-Pois é
-Voltas?
-Volto!
-Ainda bem que vieste
-Ainda bem!
E deram um beijo, porque os amigos dos abraços também dão beijos e a rapariga voltou para os pires do café, cada vez mais feliz por existirem pires , que esperam a chávena, que espera o café, que espera os amigos dos abraços!
segunda-feira, dezembro 11, 2006
terça-feira, novembro 28, 2006
Saudade...AGAIN???

De repente percebi, que afinal os anos não tinham passado, e que o tempo não era mais que uma invenção de algum desocupado (Americano, pensei!). O tempo de há vinte anos, estava ali ! Era o meu e o teu , era agora ou nunca, era já, era todos os dias, todas as horas...As tuas rugas e as minhas rugas eram de ontem, de amanhã, e o teu tímido sorriso o de sempre.
Perguntei: -Por aqui?
(queria perguntar:)- voltas-te?
Perguntei :- como estás?,
(queria perguntar:)- ficas comigo esta noite?
Falámos baixinho, para não o acordar -o tempo, claro -para o tornar eterno, sublime.
Pensei que estava morta, afinal não...
Saís-te como uma folha que cai da árvore, e eu ali fiquei, especada, a digerir o que não te disse, com as palavras que me abandonaram, para não assistirem a derrocada da minha luta contra o amor.
(queria perguntar:)- voltas-te?
Perguntei :- como estás?,
(queria perguntar:)- ficas comigo esta noite?
Falámos baixinho, para não o acordar -o tempo, claro -para o tornar eterno, sublime.
Pensei que estava morta, afinal não...
Saís-te como uma folha que cai da árvore, e eu ali fiquei, especada, a digerir o que não te disse, com as palavras que me abandonaram, para não assistirem a derrocada da minha luta contra o amor.
domingo, novembro 26, 2006
sábado, novembro 11, 2006

Abri a musica como se de um embrulho se tratasse, não um embrulho qualquer, mas, sim um muito desejado embrulho ,com uma fita da cor do arco-íris... Assim abri a musica, com o misto de esperança e de espanto
-Olá!
-Olá!
-Hoje vi-te por aí
-E o que viste?
-Vi-te em todos os teus dias, vi-te em Setembro, vi-te em Outubro...
-E como me viste?
-Vi-te com os meus olhos
-Quais?
-Os que tenho por dentro!
-São grandes?
-São do tamanho dos teus! ( não sentes este cheiro?)
-Os meus olhos não são grandes, o mundo é que é pequeno! ( qual cheiro???)
-Enganas-te!
-E o que viste?
-vi a tua solidão.
-Qual?
-Essa!
-E agora?
-Queria abraçar-te
-Para quê?
-Para te roubar a solidão!
-E o que faria eu, sem ela?
-Terias sempre o meu abraço...
-Bom adeus!
-Adeus...Ah... o cheiro...
-Sim...
-Já sei...
-E...
-Era o cheiro da saudade!
quinta-feira, novembro 09, 2006
Os seus olhos eram crescidos, enormes, e abraçavam mais de mil naus catrineta, as suas mãos eram maiores que todas as ausências, e arregaçavam os braços para o trabalho duro do dia a dia, fome a fome, tiro a tiro. Conhecia as armas pelo barulho do seu tiro, certeiro, mortal, mortifero, tão bem como conhecia os pássaros pelo seu cantar, brilhante, fresco, primaveril no Novembro que se estendia.
Não havia São Martinho, capaz de o aquecer, na quente primavera de Novembro, assim como não havia carinho possivél nas mãos do pai.
que genio louco é você?

Faça você também Que gênio-louco é você? Uma criação de O Mundo Insano da Abyssinia
sábado, novembro 04, 2006

Pergunta-me quem sou, donde venho, deixa a porta aberta para nunca saberes onde vou, nem quando vou, hei-de voltar, nas palavras que não disseres, nos beijos que não deres, lá estarei sempre, para sempre, á espera em cada vaga, em cada sonolência, que me recordes e me faças renascer em ti.
Já não quero ser o mar, nem a nuvem, quero voar nos teus sonhos, e ver-te crescer a cada novo suspiro, a cada novo regaço, e ficar parado, como ninguém... parado, a viver em ti o meu olhar cego, de quem não tem pernas, nem asas, nem braços, somente lembranças.
sábado, outubro 07, 2006
quarta-feira, outubro 04, 2006
terça-feira, outubro 03, 2006

Foi apenas um murmúrio, mas quase ouvi a tua voz, na noite clara e brilhante, que nos afagava as mãos. Dizia: -Tira a franja-
-Para quê?- perguntava o meu silêncio.
_Para que te possa ver os olhos- respondiam as tuas mãos
-Que queres ver nos meus olhos?- questionavam os mesmos, procurando alguma boa razão.
-Quero ver-te por dentro, qual Blimunda, qual sete sois!
-E se eu não tivesse olhos, como farias para ver o que tenho por dentro, mesmo por dentro, por baixo das sete saias, das sete camadas de pele, das sete camadas de dor?
- Nesse caso ver-te-ia pelo cheiro.
Assim te beijei, naquele noite clara, tão clara que nascia em mim um novo dia.
segunda-feira, outubro 02, 2006

Passara todo o dia em cima da árvore, para ver quem por ali andava. Vira novos, velhos, indefinidos, pesados, leves, sorrisos abertos, caras fechadas, alegres, tristes, eufóricos, carrancudos...enfim havia por ali de tudo. Vira o céu azul ficar cinzento, o sol ficar lua, o dia ficar noite. Vira a esperança ficar tristeza, o sorriso ficar lágrima, o abraço morrer na praia. Vira multidões e multidões apressadas, tão apressadas como se não houvesse amanhã, abdicando do agora, em troca de coisa nenhuma.
Afinal parece que ia ficar mais tempo em cima da árvore, é que os pássaros, não sabiam mentir!
sexta-feira, setembro 29, 2006

Naquele dia, e porque era sábado...(quem chamou o Mário Viegas ?), naquele dia, e porque era sábado, ou era domingo? resolvera sair de casa á procura de papoilas. Há muito que as não via, e sentia saudades de repousar o olhar no eterno vermelho das pastagens. Ficara-lhe talvez a nostalgia da canção, do Abril, do 25, ficara-lhe na pele de galinha a recordação de uma papoila que crescia, crescia... Também queria crescer e depressa. Sair daquele mundo onde não se encontrava, onde se perdia a cada minuto de si própria e onde tinha quebrado o fio de Ariadne, que a levaria de volta ao aconchego.
Assim de braço dado consigo própria, partiu á aventura,pelas ruas de Lisboa, falando com todos os seus amigos interiores, dizendo-lhes palavras que jamais ninguém ouviria, e chorando lágrimas que ninguém veria em tempo algum.
Numa esquina igual á tantas outra, viu um rosto conhecido - "conheço aquela miúda"- pensou!
Olhou melhor...-"ah sou eu !" há quanto tempo não se via a si própria ? Já se não lembrava! Também isso não parecia muito importante, quando tinha a raposa!!!