sábado, outubro 27, 2007


viviam no teu cabelo estrelas do mar cor-de-rosa, não porque as tivesses escolhido, apenas porque sim.Aí ficavam penduradas, acenando aos ventos canções do mar, e dançando o vira. Por baixo delas ficava a tua cabeça, ornamentada pelo seu brilho, que nos fazia esquecer de ti. Mas tu estavas sempre lá, não estavas?

domingo, outubro 21, 2007

-Põe aqui a mão,dizia ele.
Ela ponha a mão!
-Agora ponho eu, dizia ele.
E ele punha a mão!
-Agora mexes assim, dizia ele.
Ela mexia assim.
Ele punha a mão por cima da mão dela.
A mão dela ficava por baixo da mão dele.
Os ossos dos dedos dela, estalavam ao seu aperto.
Os ossos dele não.
Ela abria muito os olhos.
Ele fechava muito os olhos!
Ela tinha medo.
Ele tinha prazer!
-Agora vamos embora, dizia ele.
E iam-se embora!
-Não podes contar a ninguém, dizia ele.
Ela não contava a ninguém!
Vou viver para sempre na tua cabeça, pensava ele.
Vai viver na sempre na minha cabeça, pensava ela.
As mãos dele cheiravam a estopa.
As mãos dela não!
Ela reconhecia o cheiro da estopa.
Os amigos dela não.
Os amigos dela não sabiam o que era estopa.
Ela sabia!
Ele sabia!
Ele cheirava a estopa
Ela não!

quinta-feira, outubro 18, 2007


A estrada era tão longa, quanto o
tamanho dos teus braços, que, eram tão longos quanto mais jovem fosse o teu
nascimento.


Ainda
assim tinhas sempre a árvore, os
troncos...a
distância que te separava do
seu final, do seu encruzilhar,era a tua
estrada, e poderias fazer dela o que
quisesses.


E
fizeste!


Plantas-te
nascentes, onde antes só
existiam solidões, e trouxeste azul e flores, como
quem traz amor e beijos
perdidos e recuperados,e nunca esquecidos.Entre nós
fica a estrada, o desapego.
Entre nós fica a
saudade.


Acredita

terça-feira, outubro 16, 2007



A casa dos tios cheirava á avó, a casa da avó, cheirava á avó, até a casa de Lisboa cheirava á avó um mês antes dela chegar...

A avó tinha a dimensão dos gigantes, dos intocáveis, dos seres etéreos e providos de fantásticos dons supremos, e, tal como Deus ( a quem eu temia e tremia ao pensar na sua mão cruel, com que seria um dia punida, por todos os meus pecados), estava acima de todas as razões, de todas as humanidades, e, de todas as pequenas desvirtudes que lhe pareciam defeitos profundos e medonhos e a levavam a acreditar que não haveria qualquer possibilidade de um futuro feliz para uma pessoa suja e impura como eu.

Quando a avó chegava, a casa tornava-se silêncio,e, a sua arrumação era perfeita e constante, e, os biblots e os naperons, voltavam rapidamente ao seu lugar original, com a fantástica certeza, que dali jamais sairiam. Como castelos conquistados aos mouros, lá ficavam, heróicos, estóicos, valentes e seguros, e, os nossos olhos, que, eram grandes, ficavam pequenos á passagem da avó.

Espreitávamos subtilmente por entre o nevoeiro da comida e o cheiro das iscas, e, o cheiro da naftalina, que habitava na arca do enxoval.

A arca do enxoval era outra instituição, que, tal como a avó, tinha o seu lugar certo, e, toda a sala se arrumava em volta da sua magnitude, da sua amplitude, da sua existência. Lá dentro era fácil encontrar panos de cozinha, naperons, uma ou outra colcha de cama, e, as coisa boas bordadas á mão, dobradas do avesso e por passar a ferro, para que o amarelo não usurpasse o branco imaculado dos tecidos vários, que iam do linho á linha e aos turcos, e, os lençóis com rendas levavam-me a pensar em quem iria dormir ali.

Havia também objectos de puro mau gosto, tigelas enviadas pelas tias, e, pequenos brindes de quermesse. Um ovo de coser meias em madeira, que acompanhou as mudanças de idade, as mudanças de arca, as mudanças de vida.

Sempre inócuo e vago.

Sempre presente por lá, sempre inútil, jamais viu concretizar a função para a qual nasceu( um dia coserei meias com ele, para que possa completar a sua existência), ainda assim sempre por lá!

Creio que ainda hoje por lá anda, perdido nalguma caixa de recordações ou entre os brinquedos dos meninos agora adultos, e, que vêm nele apenas o que é...um ovo de coser meias.

(cont.)

sexta-feira, outubro 12, 2007



Acho que voltei... vou tentar pelo menos...voltar de vez em quando, sem medo nem angustias.

Trago mais uma mota na mochila, e muitos sonhos... muitas pessoas, muitos cheiros, muitas estradas, muitos amores.

Só falto eu...
lá chegarei!!!