segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Cadeira


A rapariga ordena os pires em fila indiana, colocando em cada um (a um ritmo sempre igual) um pacote de açúcar e uma colher, do lado esquerdo e do lado direito respectivamente. Fá-lo em silêncio, maquinalmente, pensando apenas no que faz, nada mais nada menos!
Prepara pires que esperam chávenas de café, que esperam no calor da maquina (em tempos Cimbali) pelo pedido do cliente.E envolta neste seu pensamento vê chegar a cadeira, pela primeira vez, vê chegar a cadeira e tal como todas as outras pessoas do mundo, viu o que todas as outras pessoas do mundo vêem- uma cadeira de rodas!
Esta trazia ao colo um homem e nas costas empurrando calmamente e longe de trazer um fardo vinha o rapaz.
Empurrava a cadeira como se empurra um carrinho de bebé, com a mesma paz e o mesmo carinho! Não tinha pressa, nem estava ocupado, apenas empurrava a cadeira!
Queriam café e um cinzeiro,e, queriam falar e dar beijos na testa e nas mãos,e, queriam estar juntos. Pai e filho queriam estar juntos, aproveitar o tempo que adivinhavam curto, para os muitos abraços que ainda queriam receber.
A rapariga voltou aos pires com um novo pensamento, com a alma mais aberta e o olhar mais perdido.
De vez em quando voltavam, sem dia nem hora marcada, apenas voltavam. Nuns dias a rapariga arrumava os pratos, noutros dançava pela sala enquanto servia águas e cafés e chocolates quentes.
Um dia ele disse:
- Somos amigos!
-Amigos?
-Sim somos amigos
-De que tipo?
-Daqueles dos abraços
-como te chamas
-Flecha
-Pois é somos amigos!
-De que tipo?
-daqueles que ficam cheios de alegria por se verem, mesmo sem se lembrarem que são amigos!
-Pois é
-Voltas?
-Volto!
-Ainda bem que vieste
-Ainda bem!
E deram um beijo, porque os amigos dos abraços também dão beijos e a rapariga voltou para os pires do café, cada vez mais feliz por existirem pires , que esperam a chávena, que espera o café, que espera os amigos dos abraços!